São poucos, mas preciosos. São poucos e representam aquilo que garimpei ao longo da vida. São o pouco que restou de fases por que passei e escapei ilesa, digo ilesa porque eram muitas as possibilidades para mim e também para cada um deles. Mas conseguimos nos reter, conseguimos que o vínculo fosse mantido apesar de. São poucos, eu sei, mas passaram comigo pelo vexame da banguelice da frente e pela felicidade da maternidade. São poucos, mas numa variedade de jeitos e tipos suficiente para que eu nunca me sinta sozinha no mundo e que me sinta pertencente.
Com eles, posso dividir, cantos, contas, contos, causos; planos, projetos, prosas, prazos; trincas, intrigas, futricas, titicas; receitas, recados, risadas e raios; ápices e declives; bares, boates, boatos; cozinhas, camas, mesas e banhos... Com eles, descobri que fui uma criança feliz, uma adolescente espevitada e revolucionária e me tornei uma mulher tranqüila, madura, consumista e metida a burguesa. Ao lado deles, vivi minha vidinha cotidiana no esquema escola-cinema-cursodeinglês-televisão; no esquema faculdade-estágio-bar-praia e no esquema trabalho-casa-trabalho. Com eles, aprendi a caminhar com minhas próprias pernas; a dar todas as voltas por cima que se fizerem necessárias; a entender que há quem puxe o tapete e há quem estenda mão e há quem bata a porta na cara e há quem abras as janelas e há quem descarte e há quem enalteça.
Eu só consigo concluir que quando se trata de amizade verdadeira não há hiato. O vínculo não se dissolve e permanece sólido apesar da geografia, da falta de tempo, do corre-corre da vida moderna, dos relacionamentos, da falta de telefonemas, das ausências justificadas ou não... Não há descaminho, mágoa, razão que fira a relação porque o que importa mesmo é o apreço, a admiração e o bem-querer reciprocamente apresentados. É claro que haverá desentendimento, desencontro, desespero, lágrimas, quem sabe... Mas depois dos pingos nos is, tudo volta ser como sempre foi, a conversa flui e a risada frouxa retoma seu lugar e a sensação de se estar à vontade, de poder dizer o que se quer, de compreensão toma seu assento.
É, eu tenho poucos, bons e bem garimpados amigos. É clichê e breguíssimo, eu admito, mas eles são como uma família para mim. Meu sentimento é muitas vezes (na maioria delas) muito bem disfarçado numa força que não possuo, mas preciso dizer que não há necessidade de expressão, de manifestações hiperbólicas, nem de declarações de amor. O que me faz amiga de vocês é saber que estaremos juntos mais uma vez, assim que possível e que neste reencontro seremos ainda os mesmos e dividiremos nossas histórias como se o tempo não tivesse corrido tanto.
Feliz dia do amigo!
Marcele Alencar - http://naoquerooutrolugar.blogspot.com/
Não é bonitinho? Não é corrente não, hein? É dela mesmo.
3 comentários:
Hahaha! Fofura! Adoro o do "Thiago"! Beijos, moça!
Lindo texto! :)
Amei visitar seu blog... E ler esse texto aqui, então afff. Cheia de orgulho e de alegria também... Ah não se aperrei não... sou eu a mãe da Marcele do Thiago... kkkk Bjim
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