Resolvemos sair de Marrakech em direção às dunas de Erg Chebbi. Sabíamos que a viagem seria cansativa porque afinal seriam 1200 Km com boa parte em montanhas, mas tb sabíamos que revesaríamos e que valia demais a pena todo o esforço, visto todos os bons depoimentos de quem já foi.
Foi a melhor coisa que fizemos. O que mais me marcou esses dias, além da gigante mudança cultural, foram as paisagens únicas e diferentes de tudo o que já vi.
As cores do país parecem se repetir indefinidamente. Não sei se essa é uma característica dessa região específica, mas a mistura do verde das regiões com palmeiras, os verdadeiros oásis, e a cor telha das casas e da terra ao redor é impressionante. O que mudam são as tonalidades ao longo do dia, de mais clarinha a mais escura. Lindo de morrer. Além da arquitetura característica feita a partir de técnicas seculares.
As cidades que mais nos marcaram foram Skoura, pela grande região de palmeiras aos pés das montanhas do Atlas, as gargantas do Togda, as palmeiras fazendo as vezes de rio cortando as cidades da região, a cidade de Ait Ben Haddou, onde foram rodados filmes como Gladiador e Sodoma e Gomorra e, claro, as dunas de Erg Chebbi.
Nesses 1200 km passamos por diferentes lugares, plantações, rios, planícies e em todas eles, vimos mulheres ralando duro, carregando tudo quanto é tralha nas costas, lavrando, lavando roupa nos rios, colhendo flores; e, os homens, muito bem sentados à frente dos seus mercados, na ruas, bebendo um chá confortavelmente. No mínimo intrigante. Ao meu ver, nesses quatro dias de estrada, as mulheres parecem dar muito mais duro do que os homens. Numa conversa com um senhor na cidade em que fizemos o passeio de dromedário, ele nos solta sem perguntarmos nada que ali era diferente da França e do Brasil, que ali menina da idade da filha dele (devia ter seus 9 anos) tinha que trabalhar em casa desde pequena, aprender a cozinhar e a limpar, que era pra não inventar de trabalhar fora, que era pra se preparar pra casar. A menininha lá, limpando o banheiro a rodo ao nosso lado. Me deu uma coisa. Aquele homem muito cheio de razão definindo o futuro da criança, sem liberdade de pensamento, de escolha. Nossa.
Nunca me senti tão peixe fora d'água quanto no Marrocos, e olhe que estamos falando de talvez o país muçulmano mais aberto pra cultura ocidental. Me senti diferente, não pertencente aquele contexto. Difícil de explicar. Me senti olhada, questionada pelas minhas roupas, pela minha atitude. Olhe que escolhi modelitos mais discretos, bermudas longas e blusas de manga de propósito, mas não acho que isso tenha feito diferença.
Mudando de assunto, o ritmo de vida levado pela população do interior muito me lembrou o do sertão nordestino. Ali, em Hassi Labied, uma minúscula cidade à beira das dunas, constatamos que as horas não significam muita coisa, que se trabalha quando tem trabalho, que os dias passam na medida em que o sol se põe e que os meses são contados em "mês um", "mês dois" (até mais simples, né?)...
O passeio em si pelo "deserto" marroquino foi talvez o ponto forte de toda a semana. Andamos de dromedário durante uma hora e meia até nosso acampamento estilo berbere, vimos o pôr-do-sol do alto das dunas, jantamos uma maravilhosa tagine de legumes preparada por nossos guias, dormimos sob um céu estrelado lindo de morrer, vimos um nascer do sol único, escutamos o silêncio e fizemos nossas necessidades em toilette seco. Pode ter certeza que esta última experiência foi, no mínimo, intrigante. Nessas horas meu estilo de vida citadino não ajuda em nada. Ainda preciso evoluir muito pra ser "selva" de verdade.
É isso. O Marrocos fechou um ciclo na nossa vida, um ciclo que começou logo quando pisamos nessas terras tão longínquas. Um ciclo marcado por grandes descobertas, que tanto ampliaram nossos horizontes pessoais, culturais, lingüísticos, geográficos... Que novos ciclos sejam abertos muito em breve pq a sede de conhecer o mundo está longe de ser saciada! Quem sabe com mini-mochileiros nas costas? Ô delícia!
Foi a melhor coisa que fizemos. O que mais me marcou esses dias, além da gigante mudança cultural, foram as paisagens únicas e diferentes de tudo o que já vi.
As cores do país parecem se repetir indefinidamente. Não sei se essa é uma característica dessa região específica, mas a mistura do verde das regiões com palmeiras, os verdadeiros oásis, e a cor telha das casas e da terra ao redor é impressionante. O que mudam são as tonalidades ao longo do dia, de mais clarinha a mais escura. Lindo de morrer. Além da arquitetura característica feita a partir de técnicas seculares.
As cidades que mais nos marcaram foram Skoura, pela grande região de palmeiras aos pés das montanhas do Atlas, as gargantas do Togda, as palmeiras fazendo as vezes de rio cortando as cidades da região, a cidade de Ait Ben Haddou, onde foram rodados filmes como Gladiador e Sodoma e Gomorra e, claro, as dunas de Erg Chebbi.
Nesses 1200 km passamos por diferentes lugares, plantações, rios, planícies e em todas eles, vimos mulheres ralando duro, carregando tudo quanto é tralha nas costas, lavrando, lavando roupa nos rios, colhendo flores; e, os homens, muito bem sentados à frente dos seus mercados, na ruas, bebendo um chá confortavelmente. No mínimo intrigante. Ao meu ver, nesses quatro dias de estrada, as mulheres parecem dar muito mais duro do que os homens. Numa conversa com um senhor na cidade em que fizemos o passeio de dromedário, ele nos solta sem perguntarmos nada que ali era diferente da França e do Brasil, que ali menina da idade da filha dele (devia ter seus 9 anos) tinha que trabalhar em casa desde pequena, aprender a cozinhar e a limpar, que era pra não inventar de trabalhar fora, que era pra se preparar pra casar. A menininha lá, limpando o banheiro a rodo ao nosso lado. Me deu uma coisa. Aquele homem muito cheio de razão definindo o futuro da criança, sem liberdade de pensamento, de escolha. Nossa.
Nunca me senti tão peixe fora d'água quanto no Marrocos, e olhe que estamos falando de talvez o país muçulmano mais aberto pra cultura ocidental. Me senti diferente, não pertencente aquele contexto. Difícil de explicar. Me senti olhada, questionada pelas minhas roupas, pela minha atitude. Olhe que escolhi modelitos mais discretos, bermudas longas e blusas de manga de propósito, mas não acho que isso tenha feito diferença.
Mudando de assunto, o ritmo de vida levado pela população do interior muito me lembrou o do sertão nordestino. Ali, em Hassi Labied, uma minúscula cidade à beira das dunas, constatamos que as horas não significam muita coisa, que se trabalha quando tem trabalho, que os dias passam na medida em que o sol se põe e que os meses são contados em "mês um", "mês dois" (até mais simples, né?)...
O passeio em si pelo "deserto" marroquino foi talvez o ponto forte de toda a semana. Andamos de dromedário durante uma hora e meia até nosso acampamento estilo berbere, vimos o pôr-do-sol do alto das dunas, jantamos uma maravilhosa tagine de legumes preparada por nossos guias, dormimos sob um céu estrelado lindo de morrer, vimos um nascer do sol único, escutamos o silêncio e fizemos nossas necessidades em toilette seco. Pode ter certeza que esta última experiência foi, no mínimo, intrigante. Nessas horas meu estilo de vida citadino não ajuda em nada. Ainda preciso evoluir muito pra ser "selva" de verdade.
É isso. O Marrocos fechou um ciclo na nossa vida, um ciclo que começou logo quando pisamos nessas terras tão longínquas. Um ciclo marcado por grandes descobertas, que tanto ampliaram nossos horizontes pessoais, culturais, lingüísticos, geográficos... Que novos ciclos sejam abertos muito em breve pq a sede de conhecer o mundo está longe de ser saciada! Quem sabe com mini-mochileiros nas costas? Ô delícia!
4 comentários:
Pode contar comigo!!
mini-mochileiros nas costas é muuuiiito bom, mas só dá pra levar mesmo, depois de uns três anos... Certeza de que esse é o melhor cilco na vida de uma mulher! Beijos!
Meu amor, sempre soube!
Marcele, não tenho dúvidas... Não vejo a hora! Bjo!
Ler esse "fechamento de ciclo" me deu arrepio... saudade de uma época q não volta mais :(
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