quinta-feira, 4 de junho de 2009

Furdunço é sinônimo de Marrakech

Pra começar o assunto, vou falar só de Marrakech.

Chegamos num final de tarde e a cidade já pulsava a ritmo frenético. Um choque pra quem sai da pacata Nice. A coisa estava literalmente pegando fogo MESMO. A famosa grande praça chamada "Jemaa El Fna" já vibrava ao som dos falsos encantadores de serpentes, músicos "berberes", vendedores do artesanato local, carrinhos de suco de laranja e de frutos secos, e as barracas de comida de feira. Cada um tem o seu espaço físico delimitado, mas todos correm atrás dos seus fregueses sem cerimônia.

Nosso guia já havia nos prevenido que Marrakech sem essa praça seria apenas mais uma cidade qualquer. Claro que ela ainda teria muitos outros encantos, mas não teria aquele "quê " que faz toda a diferença. De dia, ela é uma praça como tantas outras, mas à noite a coisa muda de figura completamente.

Pois bem, chegamos e fomos pro furdunço explorar a área. A tal da praça logo virou pra mim um espaço de "não, obrigada" (non, merci). Não dávamos sequer dois passos sem sermos abordados por alguém. Estávamos de cabeça aberta e encaramos com o maior espírito esportivo esse primeiro contato. Comemos, passeamos, dormimos.

Dia seguinte fomos conhecer vários pontos importantes da cidade: museus, antigas escolas, palácios, enfim, coisas de turistas. Tudo super lindo e com uma arquitetura típica. A cidade é cheia de mosaicos, tapetes, luminárias, couro, potes de barro... para todos os lados. Há também uma cor característica que acabamos encontrando em todas as demais cidades visitadas. Vai de salmão a telha, sempre nessa palheta de cores, que muda de tonalidade na medida que o dia vai passando. Nenhuma casa foge do padrão, é impressionante.

A culinária também me marcou muito. Eu já conhecia os pratos mais famosos, como a tagine e o couscous, mas lá provamos deliciosos doces marroquinos e uma deliciosa versatilidade de pratos: diferentes formas de tagine e couscous marroquinos, pastilla de peixe e de carne com amêndoas, frango ao limão, bolinhos de carne chamados kefta, briouate de vários sabores e outras coisas mais que não arrisco escrever o nome.

Quase todo mundo fala nem que seja um tiquinho de Francês, o que nos facilitou bastanta a vida, mas a língua está longe de ser unanimidade entre a população.

Depois dos bons elogios, chegou a hora de meter o sarrafo. Rapaz, fiquei extremamente decepcionada com a abordagem ao turista. Não é nem de longe parecido com o que estamos acostumados no Brasil. A malandragem chega a ser sufocante de tal forma que uma amiga minha já chegou a chorar nas ruas de lá porque não aguentava mais. Na praça, chega a ser ridículo como os vendedores escoltam os turistas pras suas barracas de comida. Eles se mostram simpáticos até que vc diga não. Nesse momento, esteja pronto pra escutar grandes grosserias, fora quando eles se metem a falar árabe e só Allah sabe do que estão te xingando. É demais da conta.

A maioria está sempre pronta pra ganhar nem que seja 1 dirham a mais de vc. Não vi exceções em Marrakech. Exemplos que aconteceram com a gente: nas barracas de comida, na tal praça, no cardápio era cobrado 5 dirhans por uma coca-cola, apenas isso, sem mais nenhuma informação, na hora de pagar o atendente queria cobrar 20 dirhans pela Coca light dizendo que ela era muito mais cara que a normal; enfim, o garçom começa a falar alto, a gente se estressa, fica puto durante um bom tempo e o passeio perde um pouco da graça. O foda é que isso acontece o TEMPO TODO, 20 vezes ao dia, e chega uma hora que vc quer mandar tudim ir pra baixa da égua.

Outro exemplo: estávamos de saco cheio e resolvemos ir prum café bem caro tomar um chá de menta, típico de lá, pagando 10 vezes mais do que em outros cantos, acreditando que esses enrolões só teriam nos locais mais populares. Ledo engano. Pedimos apenas um chá pros dois porque geralmente os bules são grandes e um só dá tranquilamente pra gente. Na hora de pagar a conta, lá vem cobrando por dois chás. A desculpa do garçom era que eles não servem chá para apenas uma pessoa. Como é que é? Que conversa era essa? Deixamos passar... estávamos realmente muito cansados pra discutir pelo valor de quase dois euros pra gente. O mais chato foi ver todos os garçons rindo, e inclusive o gerente, ao ver a cena do garçonzinho conseguindo passar o golpe dele. Foi a gota d'água. A partir daí fiz cara feia pra Deus e o mundo. Eu não respondia mais nem se me oferecessem dinheiro. Não queria mais papo e muito menos contato.

Saímos de Marrakech para conhecermos o leste do país desesperados pra respirar, e voltamos quatro dias depois pra pegar o vôo de volta com um pé atrás, ainda mais depois de ter descoberto a gentileza do povo do interior.

Marrakech não é o maior tesouro do Marrocos, mas apesar dos pontos negativos, ainda acho que é passagem obrigatória. Um dia corrido talvez seja suficiente pra vc não sair de lá puto com eles e só, digamos, chateados.


2 comentários:

Cele disse...

Quem sabe um dia a gente pinte por lá! Adorei as fotos que vi no orkut! Realmente impressionante!

Mulher da Peste disse...

Olha que periga de acontecer com o futuro promissor de vcs! Bjo!