domingo, 28 de junho de 2009

Estacionando

Que aqui no velho mundo é um verdadeiro parto estacionar o carro em locais gratuitos, que apenas os prédios mais novas têm garagem no subsolo e que só se para o carro quando se encosta no próximo ao fazer a baliza foram coisas que só aprendi quando cheguei aqui.

No Brasil neguinho tem o maior cuidado com o carro, temos tipos que vão dos que "faltam lamber o bem" aos que "classificam o possante no topo da lista de preferências, seguido pelo nome da namorada, família, cachorro, trabalho".

Modéstia à parte sou uma boa motorista, curto dirigir mesmo e não endosso o coro do "mulher no volante, perigo constante" não, mas visto as vagas minúsculas daqui, logo aprendi a técnica do só parar quando encostar e vou ter que me policiar pra não repetir tal comportamento no Brasil se tiver amor à vida.

Sei que nesses quase quatro anos vi cenas no mínimo hilárias de neguinho estacionando o carro. Vi "mansidões" dignas do mau humor dos franceses. Não sei quanto aos outros países da Europa, só posso falar da minha própria experiência, mas ao que parece a coisa não é muito diferente daqui não. Esse vídeo é na Alemanha, mas juro que escuto um "oh, monsieur" ao final. Acho que estou ouvindo coisa. Dividindo com vcs:

terça-feira, 23 de junho de 2009

Marujos, vida nova à vista

Correria, dias cheios de decisões, despaches burocráticos e nova vida à vista! Acho que vou demorar a dar o ar da graça por aqui. Enquanto a vida real borbulhar, a vida virtual ficará em stand by.

Partilhando um sentimento que bateu nos últimos dias: rapaz, vida de adulto não é fácil, hein? Todo dia é um problema novo que aparece. Vou te contar. A gente vai crescendo (hoje em dia só pros lados, ô desgraça!) e as responsabilidades só aumentando, aumentando. E olhe que a cegonha ainda não apareceu por aqui! E já estou cheia de cabelos brancos! Ó céus! Bom, esse é o lado que não vale a pena ser gente grande.

Fui... que a lista de pendências é grande.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Vizinho da sanfona

Há 3 anos e meio moro no mesmo apartamento e quase todos os dias um vizinho de cima do meu ap, que até hoje não descobri quem é, toca a sua sanfona pra quem quiser ouvir. Agora então, com o clima gostoso que chegou, ele (ou ela) escancara as suas janelas e adentra pelas nossas sem pedir licença. Uma delícia!

É o momento ZEN do dia. Como fico mais em casa agora, escuto-o com bem mais freqüência. Troco pelos forrós, que normalmente escutava a toda altura vindo dos vizinhos da minha mãe, na hora! Hoje só saí na sacada algumas músicas depois, dei uma olhadela pros outros aps e vi vários outros vizinhos curtindo o som. Legal, né?

O repertório passa por um monte de canção que só conheço de ouvido, mas sei que ele toca muita coisa da Edith Piaf, a mulher da famosa La Vie en Rose e Hymne à l'Amour. Nada mais Francês!

Uma outra que tb é dela e que ele sempre toca é esta, La Foule:


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Das coisas que eu VOU sentir falta: mundo virtual descomplicado

Mais uma pra série "das coisas que eu vou sentir falta": mundo virtual.

Aqui aprendi outras facetas da internet, conheci uma multitude de serviços disponíveis através desse mundo virtual e não pude deixar de constatar o quanto as empresas brasileiras ainda deixam a desejar nesse setor. Ainda temos que comer muito feijão com arroz pra chegar aos patamares dos serviços disponíveis que encontramos aqui na França.

Ô, gente, quer ferramenta mais básica que internet hj em dia? Tem melhor lugar pra investir o rico capital da empresa? Eu sei que tem aí embutido a relação do fator econômico e a inclusão digital da população canarinha, mas não justifica que grandes empresas brasileiras mantenham no ar sites tão meia-boca.

Esses dias comecei a tentar definir o roteiro da nossa lua-de-mel e só não xinguei mais pq entreguei os pontos, desisti. A começar pelas cias aéreas. Que vergonha! Nem um mapinha daqueles com as cidades e setinhas indicando de onde e pra onde voam tem, muito menos calendários com as melhores tarifas, várias opções de línguas, pouca clareza, design fulera... Ave! E tô falando de uma TAM da vida.

Aqui neguinho praticamente não passa por agências de viagens, resolve tudo ele mesmo, encontra facilmente sites de hotéis (mesmo os mais furrecas!), opções de passeios detalhados, preços, tudo certinho. No Brasil a coisa muda de figura, agência de turismo é parada obrigatória! Mesmo passando por esses intermediários, quem disse que vc encontra boas informações disponíveis nos seus respectivos sites? Basta conferir no da CVC. Pô, ela é uma das maiores empresas de turismo de Fortaleza e o site é uma vergonha. A primeira página é super bonitinha, chamativa, mas basta clicar nas opções de roteiros que, surpresa!, não aparece nenhum roteirozinho pra contar história, nem que seja desatualizado.

Aqui aprendi até a comprar roupas e sapatos pela internet! Confesso que era super matuta e não botava fé de jeito nenhum, mas eles sabem como te conquistar e oferecem preços excelentes justamente pq não têm a despesa que as lojas têm. Vc só não compra gente porque a Princesa Isabel fez direitinho o trabalho dela, mas maquiagem, parafernalha eletrônica (máquina fotográfica, pc...), móveis, carros (tudo bem, a gente tb compra pela net no Brasil)... vc acha.

Vou sentir falta dessa facilidade, de ter esse mundo disponível em dois cliques. Hj em dia comodidade e praticidade fazem parte da vida moderna, além disso, faz bem pro planeta! Já pensou quanto de CO2 não economizamos só em não ter que pegar o carro pra rodar a cidade atrás "daquela" blusa pro dia do seu aniversário? Um bocado.


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pra lá de Marrakech


Resolvemos sair de Marrakech em direção às dunas de Erg Chebbi. Sabíamos que a viagem seria cansativa porque afinal seriam 1200 Km com boa parte em montanhas, mas tb sabíamos que revesaríamos e que valia demais a pena todo o esforço, visto todos os bons depoimentos de quem já foi.

Foi a melhor coisa que fizemos. O que mais me marcou esses dias, além da gigante mudança cultural, foram as paisagens únicas e diferentes de tudo o que já vi.

As cores do país parecem se repetir indefinidamente. Não sei se essa é uma característica dessa região específica, mas a mistura do verde das regiões com palmeiras, os verdadeiros oásis, e a cor telha das casas e da terra ao redor é impressionante. O que mudam são as tonalidades ao longo do dia, de mais clarinha a mais escura. Lindo de morrer. Além da arquitetura característica feita a partir de técnicas seculares.

As cidades que mais nos marcaram foram Skoura, pela grande região de palmeiras aos pés das montanhas do Atlas, as gargantas do Togda, as palmeiras fazendo as vezes de rio cortando as cidades da região, a cidade de Ait Ben Haddou, onde foram rodados filmes como Gladiador e Sodoma e Gomorra e, claro, as dunas de Erg Chebbi.

Nesses 1200 km passamos por diferentes lugares, plantações, rios, planícies e em todas eles, vimos mulheres ralando duro, carregando tudo quanto é tralha nas costas, lavrando, lavando roupa nos rios, colhendo flores; e, os homens, muito bem sentados à frente dos seus mercados, na ruas, bebendo um chá confortavelmente. No mínimo intrigante. Ao meu ver, nesses quatro dias de estrada, as mulheres parecem dar muito mais duro do que os homens. Numa conversa com um senhor na cidade em que fizemos o passeio de dromedário, ele nos solta sem perguntarmos nada que ali era diferente da França e do Brasil, que ali menina da idade da filha dele (devia ter seus 9 anos) tinha que trabalhar em casa desde pequena, aprender a cozinhar e a limpar, que era pra não inventar de trabalhar fora, que era pra se preparar pra casar. A menininha lá, limpando o banheiro a rodo ao nosso lado. Me deu uma coisa. Aquele homem muito cheio de razão definindo o futuro da criança, sem liberdade de pensamento, de escolha. Nossa.

Nunca me senti tão peixe fora d'água quanto no Marrocos, e olhe que estamos falando de talvez o país muçulmano mais aberto pra cultura ocidental. Me senti diferente, não pertencente aquele contexto. Difícil de explicar. Me senti olhada, questionada pelas minhas roupas, pela minha atitude. Olhe que escolhi modelitos mais discretos, bermudas longas e blusas de manga de propósito, mas não acho que isso tenha feito diferença.

Mudando de assunto, o ritmo de vida levado pela população do interior muito me lembrou o do sertão nordestino. Ali, em Hassi Labied, uma minúscula cidade à beira das dunas, constatamos que as horas não significam muita coisa, que se trabalha quando tem trabalho, que os dias passam na medida em que o sol se põe e que os meses são contados em "mês um", "mês dois" (até mais simples, né?)...

O passeio em si pelo "deserto" marroquino foi talvez o ponto forte de toda a semana. Andamos de dromedário durante uma hora e meia até nosso acampamento estilo berbere, vimos o pôr-do-sol do alto das dunas, jantamos uma maravilhosa tagine de legumes preparada por nossos guias, dormimos sob um céu estrelado lindo de morrer, vimos um nascer do sol único, escutamos o silêncio e fizemos nossas necessidades em toilette seco. Pode ter certeza que esta última experiência foi, no mínimo, intrigante. Nessas horas meu estilo de vida citadino não ajuda em nada. Ainda preciso evoluir muito pra ser "selva" de verdade.

É isso. O Marrocos fechou um ciclo na nossa vida, um ciclo que começou logo quando pisamos nessas terras tão longínquas. Um ciclo marcado por grandes descobertas, que tanto ampliaram nossos horizontes pessoais, culturais, lingüísticos, geográficos... Que novos ciclos sejam abertos muito em breve pq a sede de conhecer o mundo está longe de ser saciada! Quem sabe com mini-mochileiros nas costas? Ô delícia!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Furdunço é sinônimo de Marrakech

Pra começar o assunto, vou falar só de Marrakech.

Chegamos num final de tarde e a cidade já pulsava a ritmo frenético. Um choque pra quem sai da pacata Nice. A coisa estava literalmente pegando fogo MESMO. A famosa grande praça chamada "Jemaa El Fna" já vibrava ao som dos falsos encantadores de serpentes, músicos "berberes", vendedores do artesanato local, carrinhos de suco de laranja e de frutos secos, e as barracas de comida de feira. Cada um tem o seu espaço físico delimitado, mas todos correm atrás dos seus fregueses sem cerimônia.

Nosso guia já havia nos prevenido que Marrakech sem essa praça seria apenas mais uma cidade qualquer. Claro que ela ainda teria muitos outros encantos, mas não teria aquele "quê " que faz toda a diferença. De dia, ela é uma praça como tantas outras, mas à noite a coisa muda de figura completamente.

Pois bem, chegamos e fomos pro furdunço explorar a área. A tal da praça logo virou pra mim um espaço de "não, obrigada" (non, merci). Não dávamos sequer dois passos sem sermos abordados por alguém. Estávamos de cabeça aberta e encaramos com o maior espírito esportivo esse primeiro contato. Comemos, passeamos, dormimos.

Dia seguinte fomos conhecer vários pontos importantes da cidade: museus, antigas escolas, palácios, enfim, coisas de turistas. Tudo super lindo e com uma arquitetura típica. A cidade é cheia de mosaicos, tapetes, luminárias, couro, potes de barro... para todos os lados. Há também uma cor característica que acabamos encontrando em todas as demais cidades visitadas. Vai de salmão a telha, sempre nessa palheta de cores, que muda de tonalidade na medida que o dia vai passando. Nenhuma casa foge do padrão, é impressionante.

A culinária também me marcou muito. Eu já conhecia os pratos mais famosos, como a tagine e o couscous, mas lá provamos deliciosos doces marroquinos e uma deliciosa versatilidade de pratos: diferentes formas de tagine e couscous marroquinos, pastilla de peixe e de carne com amêndoas, frango ao limão, bolinhos de carne chamados kefta, briouate de vários sabores e outras coisas mais que não arrisco escrever o nome.

Quase todo mundo fala nem que seja um tiquinho de Francês, o que nos facilitou bastanta a vida, mas a língua está longe de ser unanimidade entre a população.

Depois dos bons elogios, chegou a hora de meter o sarrafo. Rapaz, fiquei extremamente decepcionada com a abordagem ao turista. Não é nem de longe parecido com o que estamos acostumados no Brasil. A malandragem chega a ser sufocante de tal forma que uma amiga minha já chegou a chorar nas ruas de lá porque não aguentava mais. Na praça, chega a ser ridículo como os vendedores escoltam os turistas pras suas barracas de comida. Eles se mostram simpáticos até que vc diga não. Nesse momento, esteja pronto pra escutar grandes grosserias, fora quando eles se metem a falar árabe e só Allah sabe do que estão te xingando. É demais da conta.

A maioria está sempre pronta pra ganhar nem que seja 1 dirham a mais de vc. Não vi exceções em Marrakech. Exemplos que aconteceram com a gente: nas barracas de comida, na tal praça, no cardápio era cobrado 5 dirhans por uma coca-cola, apenas isso, sem mais nenhuma informação, na hora de pagar o atendente queria cobrar 20 dirhans pela Coca light dizendo que ela era muito mais cara que a normal; enfim, o garçom começa a falar alto, a gente se estressa, fica puto durante um bom tempo e o passeio perde um pouco da graça. O foda é que isso acontece o TEMPO TODO, 20 vezes ao dia, e chega uma hora que vc quer mandar tudim ir pra baixa da égua.

Outro exemplo: estávamos de saco cheio e resolvemos ir prum café bem caro tomar um chá de menta, típico de lá, pagando 10 vezes mais do que em outros cantos, acreditando que esses enrolões só teriam nos locais mais populares. Ledo engano. Pedimos apenas um chá pros dois porque geralmente os bules são grandes e um só dá tranquilamente pra gente. Na hora de pagar a conta, lá vem cobrando por dois chás. A desculpa do garçom era que eles não servem chá para apenas uma pessoa. Como é que é? Que conversa era essa? Deixamos passar... estávamos realmente muito cansados pra discutir pelo valor de quase dois euros pra gente. O mais chato foi ver todos os garçons rindo, e inclusive o gerente, ao ver a cena do garçonzinho conseguindo passar o golpe dele. Foi a gota d'água. A partir daí fiz cara feia pra Deus e o mundo. Eu não respondia mais nem se me oferecessem dinheiro. Não queria mais papo e muito menos contato.

Saímos de Marrakech para conhecermos o leste do país desesperados pra respirar, e voltamos quatro dias depois pra pegar o vôo de volta com um pé atrás, ainda mais depois de ter descoberto a gentileza do povo do interior.

Marrakech não é o maior tesouro do Marrocos, mas apesar dos pontos negativos, ainda acho que é passagem obrigatória. Um dia corrido talvez seja suficiente pra vc não sair de lá puto com eles e só, digamos, chateados.


Sinal de vida e férias das férias.


Voltamos. Ricos de lindas imagens, paisagens e quadros nunca antes vistos por estes olhos. Cheios de coisas pra contar, pra pensar, pra discutir.

O Marrocos foi INTENSO. No melhor e no pior sentido também.

Vou escrever sobre isso mais tarde, por enquanto, deixo aqui um gostinho do que vivemos.

Boa viagem!