O momento aconteceu e eu só me dei conta depois que passou. Eu já sabia que a ídola-mor dos últimos tempos estaria sendo possuída (piadinha interna para quem é empossado) no mesmo dia que o Xande e já tínhamos até planejado falar com ela, assim como quem não quer nada, dar os parabéns e afins. Eu só não sabia que eu iria dar uma de tiete literalmente.
Lá estávamos nós: eu, o Xande, o trio maravilha – Lola, Maridão e a Lola-Mãe – outros 75 possuídos e seus respectivos gatos, papagaios e galinhas. Já cheguei com o auditório bombando e o calor comendo de esmola, como é de praxe nessa Terra do Sol; falei com meu digníssimo e logo comecei a espichar a cabeça procurando meus “conhecidos” quando o Xande me diz que eles estão sentados na segunda fileira, assim como a gente, mas do lado do noivo, o direito, enquanto estávamos do lado da noiva, à esquerda. Não demorou muito para o rapaz sentado à minha direita pensar que eu estava paquerando com ele de tanto que tentava olhar pro trio.
Sabe quando a gente pensa que nossos ídolos não são gente como a gente? Pois é, lá estava eu pensando: olha, eles conversam entre eles (dããã!!). Minutos depois: eita, é um conversê só com o moço à direita deles. Bem que esse moço podia ter sentado mais pro meu lado pra ver se eles olham pra cá... Ridículo. Eu sei.
O Xande, que também é Carlos, seria chamado antes da Lola, que também é Dolores, para receber a documentação e assinar o termo de posse, e logo eu estava me preparando para o primeiro momento paparazzi da minha vida.
Ao final da cerimônia, eu e o Xande estávamos num impasse só: vamos? Não vamos. Vamos? Não, vai ser ridículo, chato, um dizia. Besteira, ela está acostumada. Mas deve ser chato, sim. E os vimos sair antes de nós. Não deu outra, bateu o arrependimento. Fomos, ainda, dar uma olhadinha ao redor da Reitoria e nada. Escafederam-se. O quê? Como assim?
Entre a reitoria e a nossa casa havia uma padaria no meio do caminho. Isso mesmo, no meio do caminho havia uma bendita padaria cheia de guloseimas. Sentamos, fizemos nossos pratos, comemos. Hora de escolher a sobremesa e, tcharam!, eles aparecem. Só vi o Xande dizendo: você que é a Lola? Oi, eu escrevi para você outro dia dizendo que eu também seria empossado, lembra? Pausa para a cara da Lola de que não lembra. Eu apareço com cara de boba. Oi, tudo bem? Vou dar dois beijinhos e a Lola se atrapalha. Eu penso: vixe, lá vou eu invadindo o espaço da moça e quase agarrando-a. E depois: não, acho que só se dá um beijinho lá pelas bandas de Joinville ou então eles nem cumprimentam, só acenam com a cabeça. Vai saber desse povo de fora... Comigo pensando muito mais do que falando o papo cai no tema do tempo. Ai, meu Deus. Se tem um canto que o tempo não dá o que falar é nessa terra. Hoje? Sol e calor. Amanhã? Sol e calor. Depois de amanhã? Adivinhem. Minutos depois, nos despedimos, meu amor solta um “tudo de bom” e saímos. Como assim um “tudo de bom”? Eu detesto “tudo de bom”. Bom pra quem? O que é esse tudo? Não, não, eu entendi: foi pra coroar nosso momento tiete mesmo.
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